quarta-feira, 21 de outubro de 2015

14. Proibidas Radiodifusão e Execução Públicas



Proibidas Radiodifusão e Execução Pública


Se olhar pro céu, vê a chuva de chumbo
Se olhar pro chão, nada além de asfalto
Se olhar pro sol, 30.000 dias contados
Se olhar pro morro, você vê o aço
Mas é preciso olhar torto.

Se olhar de novo, você vê o sangue
Se ver de perto, espero que aguente
As paisagens do inferno que emerge
Imagens que não dependem da lente
Se é que você me entende

Para tudo que o dinheiro não compra
E para o que não mostra a propaganda
Para o que somente o ar não desmancha
Haverá sempre a bomba atômica

Mirando o horizonte, você vê a fome
Não se sabe bem o que é miragem
Não se vê muito além do seu Iphone®
Ignora a sua linha de montagem
Mas que consciência virgem!

Se estiver atento, ouvirá os gritos
Em cada átomo do silêncio, os gemidos
Em cada gota do petróleo queimado
O som de cada crânio pilhado
Música pros meus ouvidos

Para tudo que o avião não derruba
Quando precisar da força mais bruta
Medo e morte na medida exata
Haverá sempre uma boa desculpa

E eu canto essa canção torta
Pro pedinte que bate à minha porta
Eu canto essa canção suja
Pra pessoa que dorme na rua
Eu canto com essa voz rasgada
Pro viciado da rodoviária
Eu canto sob a luz da lua
Pra mais bela das prostitutas

Encontre em mim seu reflexo
Enquanto me reviro no lixo
E me atiro com sede ao pote
Em que só tem espinha de peixe
Pra mim é banquete.

Você se preocupa com nexo
Com as sinapses em seus neurônios
Devia ouvir mais seus hormônios
Talvez redescubra no sexo
O prazer de estar vivo

Para tudo que a bala não mata
Quando falharem até as balas de prata
E estiver morta até a nobreza da espada
Há o que nunca nos falta: coragem

Encare os olhos do seu algoz
Adentre o que lhe esconde o capuz
Descubra os traidores entre nós
Que dizem guiar os incautos à luz
Corte o mal pela raiz

Saiba de onde beber da fonte
Contemple os autores de porte
Me diga o que é que eles fazem
E apure que estética infame
Eu chamo de arte

Pois é tudo que o ouro não valora
E o que não é convertível em dólar
Se aos deuses a dança não sensibiliza
Então, estes são todos deuses de mentira

Eu canto dando risada
Pra autoridade desacatada
Canto este canto macabro
Pra vítima de qualquer estupro
Canto e não digo mais nada
Pra criança feita escrava
Canto a beleza da vida
Pra pessoa assassinada

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